Hoje sofri um processo de "retroção" do tempo.
Fui levar uma amiga, ou melhor...uma prima ou então uma irmã a Espinho (cada um destes termos serve).
Deixei-a na piscina de Espinho e fui dar uma volta.
Estancionei o carro numa rua qualquer e fui caminhar.
Caminhar, caminhar e caminhar.... Foi então que cruzei uma esquina e dei de frente com uma imagem absolutamente....fantástica. "Levantei" o peito, enchi os pulmões de ar e continuei. Ao fundo? Ao fundo via-se um céu preto. Carregado, parecendo que algo se ía desabar na terra...ou no mar. O mar? Esse estava lindo. Lindo, como sempre. Encrispado, com uns tons lindos de um cinzento esverdeado e com uma cor branca no topo devido à rebentação da onda.
Fui caminhar pela areia, lado a lado com o mar como se estivessemos a conversar um com o outro em voz baixa, e fui até um paredão. Subi algumas pedras, caminhei pelo cimento até não conseguir mais.
E foi aqui!! Foi aqui que a minha infância voltou a apoderar-se de mim! Foi aqui que sorri novamente como uma criança sorri.
Fez-me lembrar quando era pequenito e ia para a praia apanhar lapas, que estavam "alapadas" às rochas xD (agarradas).
Mas por mais que quisesse não me lembrei disto sozinho. Lembrei-me por causa do cheiro que ali se sobreponha.
Aquele cheiro a maresia, aquele cheiro a água salgada, aquele batimento das ondas nas rochas. Foi tudo isto que me fez lembrar essa idade.
O tempo em que nas férias de Verão ía pra Figueira da Foz aprender a pescar no mar com um amigo nosso. O Luciano, juíz reformado cujo passatempo preferido era a pesca!
Foi ele que me explicou todos os segredos, todas as técnicas para "enganar" um peixinho no mar. Era com ele que eu falava sobre as "garinas". Perguntava-me sempre pela mesma. "Então a Sofia...está boa? :)" (1ª paixoneta da minha vida, mas que nunca deu em nada).
Fez-me lembrar do processo da minha infância na Figueira.
Das vezes em que me levantava às 4 da matina para ir pescar pró alto mar com o meu pai.
Ficava feliz nesses dias, como uma criança ficava quando apanha mais peixes que o pai, não se calando até ao final do dia até dar a novidade a toda a família e sempre a explicar como é que tinha apanhado o maior peixe de todos. A luta que me tinha dado, havendo vezes em que precisava de uma ajudinha extra pa tirar o peixe pra fora.
Fez-me lembrar das caminhadas que tinha com o meu pai à beira mar, a subir e descer rochas, sempre com uma alegria estampada no rosto.
Fez-me lembrar também quando me encontrava com o Carlitos, um jovem, operário de uma fábrica local, muito simpático e também com o vício da pesca no sangue, logo de manhãzinha, às 7 da matina encontravamo-nos em casa dele, para apanharmos a maré vazia pra podermos apanhar "percebes". Andar rocha entre rocha à procura deste maravilhoso marisco mesmo juntinho ao mar! Percebes? xD -.-'
Oh não...começou a chover! Tenho que me ir abrigar. Estou a sentir o cheiro da areia molhada a entrar pelo nariz...é bom! É agradável. Sabe bem! É um cheiro mais agradável que terra molhada.
Acabo por aqui a minha breve nostalgia. A minha breve infância de pescador. A minha infância ligada ao mar e ao cheiro do mar, e ao cheiro das rochas molhadas, e ao cheiro dos mexilhões abertos pelas gaivotas e dos mexilhões fechados agarrados às rochas.
Acaba aqui a minha história em que "tudo o vento levou"...porque o vento começou realmente a soprar forte...