terça-feira, 23 de outubro de 2007

Guardador de Rebanhos


SOU UM guardador de rebanhos.
O rebanho são os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todas as sensações.
Penso com os olhos e com os ouvido
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.
OLÁ, GUARDADOR de rebanhos,
Aí à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?
"Que é vento e que passa,
E que ja passou antes,
E que passará depois,
E a ti o que te diz?"
"Muita coisa mais do que isso.
Fala-me de muitas outras coisas
De memórias e de saudades
E de coisas que nunca foram."
"Nunca ouviste passar o vento
O vento só fala do vento
O que ouviste foi mentira
E a mentira está em ti."
Alberto Caeiro em "O Guardador de Rebanhos"

1 comentário:

Ana Ascensão disse...

Que este seja um grande blog :D