segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Aula 2 - Mosteiros e Prensas

Durante 500 anos, os monges negros Beneditinos foram a grande ordem Religiosa: Ocuparam uma posição segura e esplêndida no esquema das coisas e cresceram com força, mas talvez com pouco espaço para respirar. A sua maior abadia era a de Cluney. Maior ainda que a Casa-Mãe em Monte Cassimo, nos montes situados junto a Macôn, perto do coração da Borgonha.

Um dia, em 1112, no mesmo vale do Sâone, um zelota muito jovem chamado Bernard de Fontaine levantou a parada. Apenas com 21 anos de idade, à frente de um grupo de 30 jovens, este deu entrada num novo e pequeno Mosteiro de Cister, situado a norte de Beaune, fundado por Robert Molesnes.
Nesta ordem, havia uma regra explícita e que tinha que ser sempre cumprida. Sempre que cada mosteiro chegasse aos 60 monges, 12 tinham que partir e fundar um novo mosteiro.
Num espaço de três anos, Bernard já tinha fundado quatro mosteiros, sendo o mais importante, o de Clairvaux, no limite da região de Champagne, onde Bernard foi nomeado “abade”.
Cister era contra as regras de Cluney. Cluney apenas era uma pequena quinta existente numa floresta, que tinha apenas uma capelinha, mas que praticava e cultivava um forte sentido de dever.
Pouco tempo depois, Bernard lançou um ataque violento contra o luxo de Cluney, em que o rei, D. Luís VI não demorou em secundar.
Em 1110, os vinhos da Borgonha encontravam-se num período de estagnação. Ficavam fora da zona que estavam na “moda”, no Norte de França; e não dispunham senão de um local de mercado local. Nada se sabia acerca do seu potencial. Mas os monges Beneditinos, agora já brancos, viram nas vinhas do Cote, um desafio divino. A oferta de Deus.

Então, os monges de Cister meteram mãos à obra e recuperaram todas as vinhas desprezadas, ou plantar novas vinhas. Estudavam quais as plantas que se deveriam utilizar, faziam experiências com podas, cortando-as ou enxertando-as; ou então pondo muito zelo no fabrico do vinho e acima de tudo, proceder às provas.
O maior contributo que os monges de Cister deram para o vinho, foi o conceito que hoje é muito conhecido, “Cru”, que é a secção homogénea de uma vinha, cujos vinhos demonstram identidade de qualidade e sabor.
Os monges tiveram a sorte de encontrar este tipo de terreno, já que não é nada fácil encontrar solos deste género na França. A Cote d’Or, encontra-se numa falha geológica, em que houve um deslizamento vertical numa centena de metros. Com esta falha, fez com que se formassem diferentes camadas de terra, devido à erosão e à mistura de rochas com idades muito diferentes. Isto cria um cocktail fabuloso de solos e sub-solos, de acordo com a inclinação.

A Igreja teve um enorme sucesso nas vinhas de Cote d’Or e tinham repercussões interessantes, sendo uma delas a inveja que o Duque Hugh IV de Borgonha tinha. Irritava-se apenas pelo facto dos Beneditinos andarem a beber vinho e que enriqueciam à custa da nobreza.
Não se sabe ao certo quantos hectares possuía Cister no tempo do seu apogeu, mas a sua riqueza começou a entrar em declínio no séc. XV, quando foi secularizada durante a revolução francesa. Encontravam-se então aí 12500ha disponíveis.
Numa altura em que tudo corria bem para a Borgonha, o rei de França, João II “o Genial”, foi capturado pelo príncipe de Gales, o temível Príncipe Negro, na famosa segunda batalha de Poitiers.
João II, deixou assim o seu filho, Filipe de Valois a governar Borgonha em 1363, com apenas 14 anos.

Mais tarde este casou-se com a herdeira da Flandres. A Flandres, que era um ponto importantíssimo para as trocas marítimas devido há existência do melhor porto marítimo da altura em Bruges.
Com este “acordo”, foi o século de glória para a Borgonha e por uns tempos, os vinhos de Beaune foram os mais famosos do Mundo.

Como seria de esperar, Filipe “o Ousado”, aproveitou a situação para vender melhor os seus vinhos. Visto que não possuía meios de transportes fluviais para o norte, o custo da pipa aumentou significativamente.
Mas Filipe parecia que já tinha nascido para este tipo de negócios. Num encontro em Bruges com o Papa e representantes de Inglaterra, Filipe deu quantidades ilimitadas dos seus melhores vinhos brancos, dando apenas um cheirinho do que eram os seus vinhos tintos de Beaune. Fez valer o seu ponto de vista – e ao fim de séculos, em que a preferência recaía nos vinhos brancos, os vinhos tintos de Beaune tornaram-se numa grande moda da época.
Até aqui, pouco se falavam das castas existentes. Mas eis que apareceu uma casta denominada por “Noirien”. O nome talvez venha da cor negra que dava.
Em 1375, surge o nome Pineau pela primeira vez. Talvez Filipe tenha dado este nome pela aparência do cacho – pequeno e bem apertado.
Nesta mesma altura, apareceu uma outra casta. A Gamay.
Ao contrário da Pineau, esta dava vinhos maus, mas com grandes produções. O que fazia com os produtores ficassem contentes, porque assim tinham um maior volume de vinho. O problema, era que esta casta dava vinhos de má qualidade.
Esta casta caiu que nem ginga na aldeia de Gamay, e os produtores diziam que era Deus a pedir desculpa pela peste negra que tinha atingido em grande a França, nos anos de 1348 e 1360 (ano em que houve muitas mortes e a produção de vinho caiu devido à falta de pessoal para trabalhar).
Mas Filipe não gostou da casta e ordenou arrancá-la imediatamente, porque ia denegrir a imagem dos vinhos de Beaune. Claro está que a população não gostou nada da ideia e muitos dos investidores foram à falência devido à quebra da produção das videiras.

Nos séc. XII e XIII, apareceu uma outra região. Eberbach. Aqui existia um mosteiro que foi o maior produtor de vinho.
Nesta região, a casta plantada era o Riesling, devido a todas as encostas serem inclinadas e descobriram que Rheingau tinha sido feito para criarem vinhos brancos. Os monges da Borgonha nem queriam acreditar quando viram na qualidade excepcional destes vinhos, capazes de fazerem frente aos seus vinhos tintos e brancos.
Hoje em dia, com ou sem Riesling, Eberbach é o padrão de referência para os vinhos da região.



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