segunda-feira, 2 de março de 2009

Vou tocar na cave

Andrew Bird. Um dos meus cantautores preferidos da actualidade. Andava eu mais uma vez pelo mundo da música quando encontrei este pequeno video, de sensivelmente 9minutos, de Andrew Bird no Youtube, num formato acústico para um programa britânico. Este programa tem como objectivo convidar grandes artistas musicais a nível mundial e propor-lhe cantarem algumas das suas músicas em formato mais condicionado. Um pouco a lembrar aquele formato que já passou em tempos na Antena3, “3Pistas”.

Pois bem, acho que vale mesmo a pena perder uns minutinhos e ver este video. E para isso só basta porem no Youtube (para não estarem sempre a vir aqui) “Andrew Bird from the Basement”.
Aqui podemos ver o Mr. Bird a dedilhar a um ritmo despreocupado no seu violino enquanto baloiça calmamente a cabeça ao som do seu ritmo. O músico está vestido classicamente, com um colete e gravata e sem sapatos. Apenas calçado com um par de meias coloridas. Pormenor esse visto quando mexe os pés para mudar a “caixinha de sons”, que tem como finalidade gravar os últimos compassos que ele toca, enquanto improvisa sobre eles.
Com a sobreposição sucessiva de melodias vai aparecendo um tear de ritmos entrecruzados. O primeiro parece de uma música infantil, mas Bird toca-o concentradamente para não falhar a entrada do segundo violino, com um ritmo quase idêntico ao primeiro, mas em conjunto elevam a música para um modo mais aéreo. Depois entra um terceiro... Toca com o polegar nas cordas mais graves. A música tem agora uma progressão de uma caminhada.
Neste momento tudo é alegre, mas Andrew Bird ainda mal começou. Tira a guitarra pendurada que mal se vê, leva o violino ao ombro e prepara-se para usar pela primeira vez o arco. Por cima dequela textura que aina parece simples produz-se um solo circunspecto e ventoso, feito de glissandos por vezes estridentes, por vezes ásperos e por vezes ambas as coisas.
Da Primavera passa a Outono e apenas passou um minuto. A música parece também ter mudado de geografia com uma pequena brisa vinda do Leste, com algumas suspeitas de ciganadas ou de lamentos judeus. Entra agora um quinto violino, tamb´+em com arco quase igual ao anterior mas em registos baixos, enchendo de gravidade e tristeza o que ainda agora era saltitante.
Andrew aproxima-se agora do microfone e canta, pronunciando algumas sílabas, atacando nas consoantes. A letra que canta fala de uma cidade misteriosa e segmentada. Depois de pequeno voo vocal, Bird pisa um dos pedais e tudo pára. Há um breve silêncio e Andrew desencadeia um refrão curto. A música que antes era quase pop, ficou agora folk, e por uns breves momentos quase que tinha sido jazz.
O que era bucólico ficou urbano e passaram apenas três minutos.
Novo pisar do pedal. Regressa a trama inicial que vímos ser construída. É agora de novo e Andrew Bird improvisa sobre ela ela em forma de “pizzicato” e depois assobiando também por cima da melodia. Neste momento regressa a letra e vemos por uns instantes a tal cidade como se fôssemos viajantes acabadod de chegar pela primeira vez.
Passaram quatro minutos. Nos dois minutos seguintes a música vai continuar acumulando matizes, cores e temperamentos.
De repente Bird tira-nos do conforto. Com um último toque no pedal interrompe a música.. nos minutos que restam, traz-nos um solo sobre sons pré-gravados de uma oscilção ternária, não só verdadeiramente triste mas desolada. A música que passou por quase três estações do ano – só faltou o Verão – está lenta, amarga e muito muito bela.

2 comentários:

Ana Ascensão disse...

Espectáculo! Viajei :)

Oh João a tua maneira de escrever sobre estas coisas, e como sentes tudo isto é demais ;)

Beijoca

Anónimo disse...

carambas...ganda texto. Dá a sensação que sabes escrever muôss!
Dérrubá o joão nem com makumba!
Num cuiá o joão, sai foraaaaaa
wegue wegue wegueeee